domingo, 29 de septiembre de 2013

UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR

Caro Amigo

Estou escrevendo esta carta com a finalidade de compartilhar algumas coisas que acontecem na Colômbia e que acho, podem ser de interesse seu e das pessoas que conheco lá no Rio de Janeiro. Não acredito muito nos nacionalismos e tento pensar que muitos dos problemas que temos atualmente apresentam-se na maioria dos países e especialmente na América do Sul.


Estou na Colômbia desde começos de agosto, pois consegui apresentar minha qualificação de tese e com a finalidade de visitar minha família e fazer a pesquisa de campo permanecerei até o começo de novembro. Nestas semanas aconteceu uma importante manifestação por parte dos camponeses contra o governo nacional, chamada de Paro Nacional Agrário. Desde 18 de agosto e em diferentes partes da Colômbia, os camponeses protestaram exigindo do governo do presidente Santos um maior compromisso na defesa da agricultura, particularmente no outorgamento de subsídios para a compra de fertilizantes, pois a estrutura de custos está tornando inviável continuar trabalhando nas zonas rurais. Na maioria dos casos, os protestos foram pacíficos. Num primeiro momento o presidente subvalorizou os eventos e teve depois que reconhecer e negociar alguns pontos com os representantes. Em outras zonas do país pelo contrario a negociação foi mais difícil. Houve apoio de diferentes setores da população também, especialmente por parte dos estudantes das universidades públicas e como aconteceu há pouco tempo no Brasil, aqui também aconteceram diferentes confrontos entre manifestantes e polícia. Na quinta-feira 29 de agosto por exemplo, a mídia empregou a palavra “vândalo” para tentar polarizar a opinião pública e desviar a verdadeira essência dos protestos. Como falam aqui, é que com “la papa no se juega” que é uma expressão pra dizer que o tema da alimentação é sensível e que ainda existe uma resistência diante de um projeto que tenta favorecer somente os interesses de determinados grupos empresariais do país.

 

O que está em jogo é a segurança alimentar do país. Existe uma ligação entre os donos dos latifúndios e as empresas transnacionais que pressionaram para que o país terminasse assinando os TLC -Tratados de Libre Comercio- que não são mais que acordos pelos quais nossas sociedades terminam absorvendo os excedentes agrícolas de países como os Estados Unidos. Um artigo escrito pelo professor Darío Fajardo1 mostra o impacto que tem tido as políticas agrarias nas últimas décadas , algo que acho que deve motivar debates em toda nossa região. Nos seguintes parágrafos tento resumir o que li no artigo escrito por este professor, só pela finalidade de compartilhar o que acontece aqui.

Em nível internacional os preços dos alimentos estão cada vez mais ligados aos preços do petróleo e de outro lado muita produção de alimentos começou a ter como finalidade a produção de biocombustíveis. Boa parte da responsabilidade desta situação deriva do modelo tecnológico conhecido como “revolução verde” que ainda têm predomínio na escala global. Lendo a Hinkelammert e Mora2, coincido com eles quando falam que assistimos a uma economia da morte. É uma mercantilização de todos os âmbitos da vida humana e que no caso da produção alimentar tem seu correlato: a agricultura, o acesso, apropriação e uso da terra, a decisão do que produzir, quando e como, fica na mão das empresas multinacionais.

Como você já deve conhecer devido aos esquemas de proteção impostos pelos Estados Unidos e Europa assim como a exportação dos excedentes ao resto do mundo, a segurança alimentar de nossa região está em risco, pois de uma situação na qual produzíamos o que comíamos passamos a uma situação onde importamos especialmente cereais e oleaginosas, o que também tem mudado nossa dieta alimentar.

Continuando com o texto de Fajardo, uma das principais áreas afetadas é a agricultura camponesa a qual geralmente é excluída pelo fato de estar centrada na produção de alimentos que não são “competitivos” e portanto que não tem maior proteção pelo Estado. Tendo em conta que o índice de preços tem subido nas últimas décadas, as quantidades de recursos destinados à importação tem crescido consideravelmente.



Acho que o mais interessante para você e os amigos no Brasil seja conhecer algo do caso colombiano. Durante a década dos anos noventa a Colômbia experimentou uma redução na quantidade de hectares cultivados. Tinha perto de 5 milhões e perdeu 16% nesse período. Segundo o professor Fajardo a crise agrícola tem diferentes etapas: no primeiro momento a queda na produção de alimentos próprios dessa economia camponesa, posteriormente o deslocamento pelo terror, a violência e no terceiro momento a imposição de cultivos “promissórios” por parte de empresas multinacionais de produtos associados com a indústria agroindustrial. Temos perdido no cultivo de hortaliças, tubérculos para passar a produzir palma africana e cana-de-açúcar além de consolidar cada vez mais um padrão de concentração da terra de velha data. Esta concentração da terra leva a uma subutilização da mesma, que se exemplifica com os dados apontados para o inicio do atual governo do presidente Santos: Enquanto 30% do solo com vocação agrícola era utilizado, o dobro das áreas destinada a pasto estava sendo usada para o gado. A política agrária desde os anos noventa tem sido a de um desabastecimento alimentar.

O discurso dos anos noventa, era predominantemente neoliberal e portanto no campo da agricultura predominou o critério de concorrência assim como de programas de reformas agrárias que realmente estavam na via do mercado e não do Estado. Com a liberalização comercial acontece um desmonte da agricultura comercial, um enfraquecimento da cultura cafeteira e a implantação de uma economia do narcotráfico. Ao invés de uma reforma agrária aumentou a concentração da terra devido ao fluxo do dinheiro produzido pelo tráfico de drogas que somou-se a aqueles recursos gerados por grandes empresários e fazendeiros e que foram usados para financiar os exércitos paramilitares.

Sob o argumento de apoiar uma maior competitividade do campo e que está associada exclusivamente com a grande empresa, tem se concentrado a terra em cinco grupos nacionais e sete estrangeiros, sendo de destaque a participação dos grupos Mônica e Amaggi do Brasil. A proposta para os pequenos camponeses é o empreendedorismo ou o estabelecimento de alianças produtivas, quando em realidade são eles os que suportam em boa parte a oferta alimentar do país. Nos últimos anos tem sido promovida uma politica de formalização da propriedade rural, mas o que Fajardo denuncia é que ao não ter condições para voltar a seus territórios e trabalhar, muitos dos camponeses terminam transferindo suas propriedades “agora legalmente” para estas grandes multinacionais.

Um dos principais produtos fortalecidos pelas políticas agrárias é a chamada Palma africana, colocando o país como o quinto produtor a nível mundial (350 mil hectares dedicados a sua produção). Existem pequenos cultivadores, mas eles tem pouco poder para negociar o preço que é definido pelas grandes multinacionais. A possibilidade de destinar parte da produção para os biocombustíveis tem no entanto sérios problemas ligados aos investimentos que se precisa para uma maior produção (quase dez vezes mais do que a atual). No caso da cana de açúcar existe capacidade para ampliar a produção, mas expandir seu cultivo pode por em risco a produção de alimentos básicos. Tanto em um como no outro, os custos de produção são altos e pouco competitivos diante de outros países, como acontece com Brasil e a produção de etanol, por exemplo. Os dirigentes colombianos portanto, segundo o artigo que li, tem a expectativa de voltar a produção para o mercado interno e de obter subsídios por parte do governo nacional.

No caso do gado, existe uma heterogeneidade nos sistemas produtivos o que condiciona a qualidades de sua oferta e melhoras de tipo tecnológico: existe assim cinco tipos de produção bovina: de tipo empresarial, outra de comunidade indígena, uma terceira que é camponesa, a quarta de colonos e por fim de investimentos derivados do tráfico de drogas. Destas formas, a última tem tido como impacto específico o reforço do proprietário sobre boa parte do país. Em síntese, a respeito da economia bovina se diz que ela é extensiva levando a que muitos terrenos fiquem sendo subutilizados devido a sua consolidação.

Sobre o tráfico de drogas tem que se dizer que ele tem sido muito importante a partir dos problemas estruturais que traz o campo colombiano. Existem zonas de cultivo de coca históricas assim como um deslocamento para algumas outras regiões do país, mas o que interessa é ver que esta aprofunda ainda mais problemas como o monopólio da terra e de esta como fonte de poder e de autoritarismo na política. Assim, por um lado a produção de alimentos está ameaçada tanto pelos fatores externos das políticas agrárias internacionais assim como pelo tráfico de drogas o qual desemboca nos TLC que se caracterizam pela importação de alimentos que são subsidiados e portanto com vantagem diante da produção nacional.

Contudo os problemas estruturais mencionados da Colômbia nos anos 80 produzia 90% dos alimentos requeridos. Pouco antes de assinar o TLC com Estados Unidos o país já estava importando perto da metade dos alimentos. O feijão e o arroz, por exemplo, agora importados tem experimentado um aumento no preço internacional de 135% nos últimos anos. Assim, além dos projetos de tipo mineiro energético que estão sendo desenvolvidos aqui também, o ataque à agricultura camponesa complementa o quadro social que longe de ajudar para a superação da guerra que temos, aprofunda ainda mais a crise.


O paro nacional agrário deveria ser compreendido neste contexto mas você sabe qual é o papel da mídia em nossas sociedades e como fica reduzido o conflito a uma serie de negociações e promessas dos governos que nunca são realizadas. Na Colômbia tem lugar uma “contra-reforma” diante dos poucos e tímidos esforços de reforma agrária. Dita contra-reforma promovida pelos empresários privados, o paramilitarismo e o mesmo Estado impõem então um cenário onde temos perdido muito em soberania alimentar.

O avanço da grande propriedade tem realocado a agricultura afetando a estabilidade das comunidades camponesas, a produção de alimentos e a gestão de recursos tão importantes como a água, o solo e as florestas. A economia camponesa está baseada no conceito de Unidade Agrícola Familiar (UAF) que tenta ser eliminada do debate político. A situação fica ainda pior devido a um projeto de economia mineiro exportadora que vai levar inevitavelmente a uma correlação de forças e uma luta que tem como eixo uma luta por novos ordenamentos do território.

Espero que tenha gostado desta carta que se você quiser pode compartilhar com a maioria das pessoas que estejam interessadas nestes temas. Eu simplesmente estou traduzindo parte do texto escrito pelo professor por considerar que ele oferece uma visão resumida mas útil sobre um tema tão importante para nossa região e acho para o mundo. Desejo ter a possibilidade de poder voltar a visitar você e de participar das atividades que vocês fazem no Rio de Janeiro.

Um abraço

Hernando Sáenz
_______________________________

1Fajardo Darío. Efectos del modelo agrario sobre las condiciones alimentares de Colombia. Ponencia presentada en el 14 congreso colombiano de trabajo social. Universidad Externado de Colombia, realizado los días 14, 15 y 16 de agosto de 2013. Bogotá, Colombia.
2Hinkelammert, F. (2009) Economía, Sociedad y Vida Humana: preludio a una segunda critica de la economía política. 1ra Edición. Buenos Aires, Editorial Altamira.

Fotos: As duas primeiras Hernando Sáenz a terceira tomada de www.seloexplicoconplastilina.org

martes, 6 de agosto de 2013

COMPENDIO DEL MANIFIESTO CONVIVIALISTA



 

Este texto es el compendio del Manifiesto Convivialista, publicado el 14 de junio de 2013 en la editorial Le Bord de l’eau y se encuentra disponible en el sitio internet de la Reveu de M.A.U.S.S (Movimiento antiutilitarista en las ciencias sociales) 



Declaración de interdependencia

Nunca antes la humanidad dispuso de tantos recursos materiales y tantas competencias técnicas y científicas como ahora. Considerada en su totalidad, es rica y poderosa como nadie hubiera podido imaginarlo en los siglos pasados. Sin embargo, nada demuestra que seamos más felices así. Pero nadie desea volver atrás, porque muchos sienten que puede haber más posibilidades de realización personal y colectiva que se abren cada día.


Sin embargo, nadie puede seguir creyendo que esta acumulación de potencia pueda continuar eternamente, en una lógica de progreso técnico que no cambia, sin volverse contra sí misma y sin amenazar la supervivencia física y moral de la humanidad. Las primeras amenazas que nos asaltan son materiales, técnicas, ecológicas y económicas. Amenazas entrópicas. Pero nos sentimos mucho más impotentes cuando se trata de imaginar respuestas a un segundo tipo de amenazas. Las amenazas morales y políticas. Las que podríamos calificar de antrópicas.


El primer problema


P. Kuczynski.
Constatamos que la humanidad supo realizar progresos técnicos y científicos fulminantes, pero sigue siendo impotente para resolver el problema esencial: ¿cómo manejar la rivalidad y la violencia entre los seres humanos? ¿Cómo incitarlos a cooperar permitiéndoles oponerse sin matarse? ¿Cómo obstaculizar la acumulación de potencia, ahora ilimitada y posiblemente autodestructiva, para los hombres y para la naturaleza? Si la humanidad no sabe contestar rápidamente a estas preguntas, desaparecerá, a pesar de que todas las condiciones materiales estén reunidas para que prospere; con la condición de que tomemos definitivamente conciencia de su finitud.



Disponemos de una multitud de elementos de respuesta: los que aportaron a lo largo de los siglos las religiones, las morales, las doctrinas políticas, la filosofía y las ciencias humanas y sociales. Y las iniciativas que se dirigen hacia una alternativa a la organización actual del mundo son numerosísimas, sostenidas por decenas de miles de organizaciones y asociaciones, y por decenas y centenares de millones de personas. Se presentan bajo nombres, formas o escalas muy variadas: la defensa de los derechos humanos, de los ciudadanos, de los trabajadores, de los desempleados, de la mujer o de los niños; la economía social y solidaria con todos sus componentes: las cooperativas de producción o de consumo, el mutualismo, el comercio equitativo, las monedas paralelas o complementarias, los sistemas de intercambios locales, las numerosas asociaciones de ayuda mutua; la economía de la colaboración digital (cf. Linux, Wikipedia, etc.) ; el decrecimiento y el postdesarrollo; los movimientos slow food, slow town, slow science; la reivindicación del buen vivir, la afirmación de los derechos de la naturaleza y el elogio de la Pachamama; el altermundialismo, la ecología política y la democracia radical, los indignados, Occupy Wall Street; la búsqueda de indicadores de riqueza alternativos, los movimientos de la transformación personal, de la sobriedad voluntaria, de la abundancia frugal, del diálogo de las civilizaciones, las teorías del care, los nuevos pensamientos de los communs, etc.


P. Kuczynski
Para que estas iniciativas tan ricas puedan contrarrestar las dinámicas mortíferas de nuestros tiempos con la potencia suficiente y que no se vean reducidas al papel de simple protesta o de paliativos, es imperativo juntar sus fuerzas y energías, de ahí la importancia de subrayar y nombrar lo que tienen en común.


Del convivialismo


Lo que tienen en común estas propuestas es la búsqueda de un convivialismo, de un arte de convivir (con-vivere) permitiendo a los humanos que los unos cuiden de los otros y de la Naturaleza, sin negar la legitimidad del conflicto pero convirtiéndola en un factor de dinamismo y de creatividad. Un medio de conjurar la violencia y las pulsiones de muerte. Para obtenerlo, necesitamos ahora, con toda urgencia, un fondo doctrinal mínimo que se pueda compartir y que permita resolver al mismo tiempo las cuatro (más una) cuestiones básicas, planteándolas a escala planetaria:


La cuestión moral: ¿qué pueden esperar los individuos y qué deben prohibirse?


La cuestión política: ¿cuáles son las comunidades políticas legítimas?


La cuestión ecológica: ¿qué podemos tomar de la naturaleza y qué debemos devolverle?


La cuestión económica: ¿qué cantidad de riqueza material podemos producir, y cómo hacerlo para seguir de acuerdo con las respuestas dadas a las cuestiones moral, política y ecológica?


Uno puede, si quiere, añadir a estas cuatro cuestiones la de la relación con lo sobrenatural o lo invisible: la cuestión religiosa o espiritual. O también: la cuestión del sentido.


Consideraciones generales:


El único orden social legítimo que se puede universalizar es él que se inspira de un principio de humanidad común, de socialidad común, de individuación y de oposición controlada y creadora.


Principio de humanidad común: más allá de las diferencias de color de piel, de nacionalidad, de lengua, de cultura, de religión o de riqueza, de género o de orientación sexual, hay una única humanidad que será respetada siempre en la persona de todos sus miembros.


Principio de socialidad común: los seres humanos son seres sociales para quienes la mayor riqueza es la de sus relaciones sociales.


Principio de individuación: respetando los dos primeros principios, la política legítima es la que permite a cada uno expresar lo mejor posible su individualidad singular en marcha, desarrollando su posibilidad de ser y actuar sin perjudicar a la de los demás.


Principio de oposición controlada y creadora: porque cada uno tiene vocación de manifestar su individualidad singular, es natural que los humanos puedan oponerse. Pero es legítimo que lo hagan siempre que eso no ponga en peligro el marco de socialidad común que convierte esta rivalidad en rivalidad fecunda y no destructiva.


De estos principios generales deducimos:


Consideraciones morales:

Cada individuo puede esperar recibir un reconocimiento de igualmente digno que todos los otros seres humanos, acceder a las condiciones materiales suficientes para llevar a cabo su concepción de lo que sería una vida buena, en el respeto de las concepciones de los demás.


Lo que le está prohibido es caer en la desmesura (la hubris de los grecos), i.e. de violar el principio de humanidad común y de poner en peligro la socialidad común.


De manera concreta, el deber de cada uno es luchar contra la corrupción.


Consideraciones políticas:

En la perspectiva convivialista, un Estado o un gobierno o una institución política nueva pueden admitirse como legítimos únicamente si: 
  • Respetan estos cuatro principios de humanidad común, de socialidad común, de individuación y de oposición sin violencia y si facilitan la aplicación de las consideraciones morales, ecológicas y económicas que derivan de ellas;

Más especificamente, los Estados legítimos garantizan a todos sus ciudadanos más pobres recursos mínimos, ingresos básicos, cual sea su forma, que los mantengan protegidos de la abyección de la miseria y que prohíban progresivamente a los más ricos – via la instauración de ingresos máximos – caer en la abyección de la riqueza extrema superando un nivel que impediría que los principios de humanidad común y de socialidad común sean operantes;


Consideraciones ecológicas:

La humanidad ya no puede considerarse como poseedor y dueño de la Naturaleza: lejos de oponerse a ella, forma parte de ella, por tanto debe reanudar con ella, al menos de manera metafórica, una relación de donación/contradonación. Para dejar a las generaciones futuras un patrimonio natural preservado, el Hombre debe devolver a la Naturaleza tanto o más de lo que le saca o recibe de ella.


Consideraciones económicas:

No hay ninguna correlación probada entre riqueza monetaria o material por un lado y felicidad o bienestar por el otro. El estado ecológico del planeta lleva necesariamente a buscar todas las formas posibles de una prosperidad sin crecimiento. Por eso, es necesario, para alcanzar una economía plural, instaurar un equilibrio entre Mercado, economía pública y economía de tipo asociativo (social y solidaria), según los bienes o servicios a producir son individuales, colectivos o comunes.


¿Qué hacer?


No hay que ocultar que para conseguirlo, tendremos que enfrentarnos con potencias enormes y temibles, tanto financieras como materiales, técnicas, científicas, intelectuales, militares o criminales. Contra estas potencias colosales y a menudo invisibles o ilocalizables, las tres armas principales serán:

  • La indignación sentida frente a la desmesura y a la corrupción, y la vergüenza infundida a los que, de manera directa o indirecta, activa o pasiva, violan los principios de humanidad común y de socialidad común.
  • El sentimiento de pertenencia a una comunidad humana mundial. 
  • Mucho más allá de las « elecciones racionales » de cada uno, la movilización de los afectos y de las pasiones.

Ruptura y transición

Toda política convivialista concreta y aplicada tendrá necesariamente que tomar en cuenta:

  • El imperativo de la justicia y de la socialidad común, implicando la desaparición de las desigualdades vertiginosas que han estallado en el mundo entero entre los más ricos y el resto de la población desde los años 1970. 
  • La preocupación de dar vida a los territorios y localidades, y así territorializar y localizar de nuevo lo que la globalización externalizó demasiado. 
  • La absoluta necesidad de preservar el medio ambiente y los recursos naturales. 
  • La obligación imperiosa de hacer desaparecer el desempleo y de ofrecer a cada uno una función y un papel reconocidos en actividades útiles para la sociedad.

La traducción del convivialismo, concretamente, es articular las respuestas a la urgencia de mejorar las condiciones de vida de las clases populares y la de construir una alternativa al modo de existencia actual, tan lleno de amenazas múltiples. Una alternativa que dejará de hacer creer que el crecimiento económico infinito pueda ser todavía la respuesta a todos nuestros problemas.

Traducido por Manon Tressol y Nadia Salif

-->
Claude Alphandéry, Geneviève Ancel, Ana Maria Araujo (Uruguay), Claudine Attias-Donfut, Geneviève Azam, Akram Belkaïd (Argelia),Yann-Moulier-Boutang, Fabienne Brugère, Alain Caillé, Barbara Cassin, Philippe Chanial, Hervé Chaygneaud-Dupuy, Eve Chiapello, Denis Clerc, Ana M. Correa (Argentina), Thomas Coutrot, Jean-Pierre Dupuy, François Flahault, Francesco Fistetti (Italia),Anne-Marie Fixot, Jean-Baptiste de Foucauld, Christophe Fourel, François Fourquet, Philippe Frémeaux, Jean Gadrey,Vincent de Gaulejac, François Gauthier (Suiza),Sylvie Gendreau (Canadá), Susan George (Estados Unidos), Christiane Girard (Brasil), Françoise Gollain (Reino Unido), Roland Gori, Jean-Claude Guillebaud, Paulo Henrique Martins (Brasil), Dick Howard (Estados Unidos), Marc Humbert, Éva Illouz (Israel), Ahmet Insel (Turquía), Geneviève Jacques, Florence Jany-Catrice, Zhe Ji (China), Hervé Kempf, Elena Lasida, Serge Latouche, Jean-Louis Laville, Camille Laurens, Jacques Lecomte, Didier Livio, Gus Massiah, Dominique Méda, Margie Mendell (Canadá), Pierre-Olivier Monteil, Jacqueline Morand, Edgar Morin, Chantal Mouffe (Reino Unido), Yanna Moulier-Boutang, Osamu Nishitani (Japón), Alfredo Pena-Vega, Bernard Perret, Elena Pulcini (Italia), Ilana Silber (Israel), Roger Sue, Elvia Taracena (México), Frédéric Vandenberghe (Brasil), Patrick Viveret.

jueves, 14 de marzo de 2013

UN 8 DE MARZO EN RIO DE JANEIRO Y EL DIA INTERNACIONAL DE LA MUJER



El 8 de marzo es el día internacional de la mujer y con el paso del tiempo dicha fecha adquiere una mayor visibilidad en los medios de comunicación. Sin embargo, esta visibilidad parece estar filtrada por los intereses de quienes deciden los contenidos de los programas emitidos tanto en la televisión, como la radio y la prensa escrita.

Presentación artística 8 de marzo, Rio de Janeiro
Para muchas organizaciones esta fecha es importante para denunciar una vez más los actos de violencia que siguen existiendo en nuestras sociedades y que tienen como principal víctima a la mujer. Para otros por el contrario se convierte en una oportunidad más para la mercantilización de la mujer, para la creación de campañas publicitarias que hagan circular el capital a costa de mantener el rol de la mujer como un objeto más de propiedad del hombre o por el contrario de tratar de ver con ojos de hombre (¿o del capital?), los deseos de las mujeres, en cambio de aprender a comprender la situación de la mujer en nuestras sociedades.

Aquí en Rio de Janeiro, por ejemplo, fue emitida una publicidad de detergente que tenía como finalidad celebrar el día de la mujer. En primer plano, aparece el torso de un hombre atlético, que se dedica a lavar el tapete de la casa o de lavar una camisa que esta manchada con pintalabios. Según se ve en youtube fueron diseñadas campañas en la ciudad, donde las mujeres que llegaban a sus trabajos encontraban a estos hombres semidesnudos entregando detergente. Se sabe que hay peluquerías que ofrecen ofertas de manicure, pedicure, peinado, para la mujer en su día. Incluso hasta la alcaldía de Porto Alegre salió con una publicidad que decía así “Solo una mujer sabe lo que es perder la llave dentro del bolso” o “solo una mujer sabe el drama que es arruinarse la uña después de salir del manicure” o esta otra frase “solo una mujer sabe el placer que es quitarse los tacones al final del día”. La alcaldía de esta ciudad ya pidió disculpas por su campaña, pero muchas otras continúan y continuaran, llevando con el tiempo a que se corra el riesgo de trivializar esta fecha.

Regulen el mercado y no nuestros cuerpos
Otra tendencia que es propia de los medios de comunicación masivos tiene que ver con la decisión de que se muestra y que no. Uno no se informa, sino que se desinforma cada vez que se sienta frente al televisor. Aunque ya existen algunas actividades reconocidas como la marcha de las vagabundas (marcha das vadias), existen muchas otras que apenas son reseñadas en los medios de comunicación. Como ya es conocido por muchos, el grupo O Globo es el más grande productor de piezas comunicativas en Brasil. La producción de telenovelas, prensa, radio, televisión está en manos de esta empresa. Así pues, se comprende porque una marcha puede terminar siendo vista simplemente como un acto que está generando trancones en el centro de la ciudad. Esto fue lo que sucedió el día 8 de marzo con la marcha a la cual asistí.

La Casa de la Mujer trabajadora CAMTRA atiende a mujeres que viven en la periferia de Rio de Janeiro, especialmente en lo que se llama la Baixada Fluminense, que está constituida por varios municipios que ya han sido prácticamente incorporados a la dinámica social y económica de la ciudad, pero que sufren de una estigmatización social, muy similar a la que vive muchos barrios del sur de Bogotá y del municipio de Soacha.

Entre las actividades que se desarrollaron aquella tarde destaco una presentación artística que tuvo lugar al lado de la Iglesia Nuestra Señora de La Candelaria y la realización de una marcha por la Avenida Rio Branco, una de las vías más activas del centro de la ciudad. Como es costumbre, las personas que participaron, llevaron y diseñaron pancartas con todo tipo de mensajes. Había adicionalmente grupos de mujeres con tambores, personas disfrazadas y la participación de algunos partidos políticos de izquierda.

Cambiando el nombre de una calle (1)
Una de las cosas que más me llamó la atención y que fue muy interesante fue la iniciativa de cambiar el nombre de las calles por las cuales se iba caminando. Aquí en Rio de Janeiro, las calles y carreras tienen un nombre y es bajo esta lógica que las personas buscan una dirección. En general, los nombres corresponden a figuras ilustres tanto de nivel internacional, como nacional y local. Existe la Avenida Pasteur, por ejemplo, así como la Avenida Brasil y no es de extrañar que en el futuro tengan una avenida Lula o la avenida Dilma Rousseff.

El punto importante es que uno de los objetivos de la marcha era la realización de un acto simbólico, mediante el cual se decretaba el cambio de la calle. Fueron cerca de 8 o 9 calles por las cuales íbamos cruzando y en cada una de ellas, se hacía un alto, para que se realizara el cambio de nombre. La idea era que cada una de esas vías recibiera el nombre de una mujer, especialmente de aquellas que habían sido importantes en la lucha por el reconocimiento de los derechos de la mujer. Había una joven que se encargaba de colocar una placa de papel, donde estaba el nombre y un pequeño resumen de la vida de esta persona. Muchos transeúntes que salían de sus oficinas a esa hora o que iban caminando por allí, tenían la posibilidad de leer e informarse de la existencia de estas mujeres. La jornada terminó con una muestra artística frente al Teatro Municipal.

Cambiando el nombre a una calle (2)
Un tanto ingenuo, llegué a la casa con la intención de saber si la marcha había sido mencionada en las noticias de la noche. Lejos de presentar este tipo de manifestaciones, el noticiero presentó marchas en la India y en los países árabes, generando la impresión de que solamente allá se vulneraba a las mujeres y que ellas lejos de salir a festejar, estaban exigiendo a sus gobiernos, medidas serias para su protección. Sin embargo, la marcha que tuvo lugar en la misma ciudad, fue completamente ignorada.

Colombia es un país azotado por la guerra y las mujeres son una de las principales víctimas. Pero no es fruto de un mal genético de los colombianos. Es fruto de un sistema patriarcal, machista que se difunde por todo el mundo y que se manifiesta con sus particularidades en cada sociedad. En Brasil también existen manifestaciones de este sistema patriarcal presentes en la publicidad, en las relaciones cotidianas y en muchos espacios públicos. Si bien es importante el papel del Estado a través de las políticas públicas, queda claro que necesitamos un cambio de consciencia y una transformación de nuestras masculinidades. Esta demanda se hace imperativa, creo yo, cuando se trata de quienes hablan de que otro mundo es posible.

Enlace recomendado

Casa de la Mujer Trabajadora CAMTRA